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O que é isso que eu sinto?

“É preciso fazer algo com a morte, fazer algo com os mortos…” Rosa Montero

Como nomear o sentimento após uma perda?

Percebo que as pessoas, acreditam que ao ver partir alguém que se ama, todos sentem a mesma dor. A dor da perda…

Será?

Não posso falar pelas pessoas, mas posso falar por mim, que já vivenciei muito mais perdas do que eu gostaria.
Tão perfeita essa constatação de Rosa Montero:
“A morte faz o presente se partir ao meio e nos permite olhar por um instante pela fresta da verdade”

Vou olhar um pouco por essa fresta…

Meu avô paterno, seu Paschoal se foi quando eu tinha 10 anos. Nosso avô espanhol, tão fofo, sempre de boina.
Aos 17, vi partir meu avô Agnelo. Eu era louca por ele, e ele por mim!
Quando eu tinha 21 anos, meu primo Alexandre, meu companheiro de toda a infância, tão amado, com 19 anos, sofreu um acidente fatal e se foi. Um jovem, tão lindo, cheio de vida, puro, e amado, indo embora assim, abruptamente! Foi dilacerante para mim e toda a família.
Minha avó Paschoalina, tão engraçada e serelepe, se foi, quando eu tinha 27 anos.
Titio Chico também partiu… Não lembro a data…

Daí o mundo ruiu, ao ver partir meu pai, eu com 31, ele com 70 anos.
Achei que eu ia morrer. Demorei muito tempo para me reinventar e sentir uma dor mais amena, pela falta que ele me causava.
Me reinventei… mas nunca deixei de lembrar dele, falar dele, sentir a falta dele.
Daí foi a vez da vovó Pina, eu com 37 anos. Minha linda avó materna.
Meu Titio Boiô, filho dela, irmão da mamãe, partiu 2 meses depois.

Depois disso foi minha mãe… Há apenas 4 meses atrás.
A dor de ver sua matriarca, progenitora indo, é muito louca…
Falarei desse sentimento, mais especificamente em outro artigo, pois tive que guardar numa gaveta o impacto que essa partida me causou, já que a Cris começou a fica mal, 3 dias depois que mamãe se foi…

Mas a Cris?
Ah… a Cris não! Se tem uma pessoa no mundo que eu queria ao meu lado, até o final dos meus dias, e egoisticamente, preferencialmente, eu iria antes que ela, é a Cris…
Essa EU NUNCA imaginei partindo.
Você passa a vida temendo a partida dos avós e dos pais. Pois sabe que a natureza, se não houver intercorrências, é essa… Os mais velhos partem antes…
Mas não os irmãos… Os irmãos existem para que possamos sempre, sempre ter apoio… quando os pais adoecem, quando os pais partem, quando os amores chegam, quando os amores deixam de ser… E no nosso caso era nós 3. Os 3 irmãos, os 3 patetas, que sempre se apoiaram, sempre se curtiram e iriam continuar juntos, e mais juntos ainda depois que mamãe partisse, foi o que acordamos…
Quando ela adoeceu, eu conversei com Deus, e pedi: “por tudo o que é mais sagrado: A Cris não!”
Tudo, menos ela… ela é minha companheira, parceira, amiga, minha irmã!
E então, ela melhorou…
E a vida foi fluindo… eu acalmei!
Quando mamãe adoeceu, eu senti um certo alívio, por ser minha mãe e não a Cris. Na minha cabeça, minha mãe já não estava com uma qualidade boa de vida, tinha vivido bastante, e era natural que partisse…
Está bem Deus… será a mamãe e não a Cris… eu aceito!
Me dava um desespero quando eu imaginava que um dia eu precisasse cuidar da mamãe sem a Cris, ou que a Cris pudesse partir antes, e eu viver a dor dupla de sofrer por essa perda, e pela dor de ver minha mãe destruída por isso…
Mas Deus é bom… Permitiu que minha mãezinha fosse em paz…
Mas qual seria o propósito de tudo isso, que veio depois?

Porque a Cris teve que ir na sequência? 100 dias depois?
Eu, que achava um absurdo minha mãe ter perdido a mãe dela, e o irmão mais novo em um espaço de 60 dias, acabei vivenciando o mesmo absurdo? Isso é bizarro!
Quantas perguntas pairam o tempo todo na minha cabeça…
Elas tinham um acordo pré-encarnatório?
Mamãe ficou doente para não ver a filha partir?
A Cris esperou que ela fosse para não causar essa dor a ela e a mim?
O que raios foi isso??
Porque elas foram e me deixaram aqui?
Que debandada foi essa?
Nós que éramos um trio! E também um quádruplo, junto com a Juju…

Daí vem a dor de ver a Cris partir…
Essa é diferente de tudo o que já senti… Não… não se compara a dor de perder todos esses amados que perdi… de perder os pais…aqui tem algo diferente…
É transcedental…

A intensidade da dor, é relacionada com a intensidade da presença, e do impacto que a pessoa tinha em nossas vidas…
E a Cris para mim, era um pedaço meu… a gente se misturava… éramos absurdamente parecidas na forma de pensar e sentir, e parece que uma entendia algo e por osmose a outra captava também, e quando íamos compartilhar era só: sim, é isso, sinto assim também, essa ficha me caiu ontem!
Nos doíamos por coisas parecidas… sentíamos a mamãe e o papai da mesma forma…
Mas éramos especialmente diferentes em tantas coisas!
Só que nos complementávamos, pois uma sempre atuava onde a outra não podia, ou não conseguia…
As vezes ela me tirava do sério… mas era raro… e era sempre pelos mesmos motivos…
Ou porque se fechava e não queria conversar quando estava mal, dizia assim na mensagem: “estou deprimida, não quero falar, vou deitar tá?” … ou porque não me ajudava nos almoços em casa… sempre coisas banais, sem importância…
E que depois de um conflito, se transformou, e ela passou a me ajudar sempre…
Era assim, a gente conversava e resolvia tudo… um respeito que uma tinha pela outra, uma admiração, uma torcida, um bem querer, um amor tão, tão grande…
Então, aqui, é sim, lidar com a perda de um ente querido…
Mas não é só isso…
É lidar com o fato de que a vida será completamente diferente sem a partilha que tínhamos, sem as risadas, as trocas, sem o apoio, sem as festas, os vinhos, as cantorias, sem sua arte, sem sua beleza, sem suas falas originais…
Sem a autenticidade de alguém que era incomparável. Ela não era como ninguém!
Era única! Seu jeitinho maluquinho de ser nos fazia rir… Falava o que pensava, as vezes meio sem noção, e a gente ria, e falava: A Cris é doida! Mas era uma doida adorável, do bem, intensa, livre, absolutamente sedutora, bela e engraçada.
Era grande… as mãos mais lindas que qualquer um já viu! E os lábios grossos, que não diminuiam com o passar do tempo… Ah, o sorriso!! o mesmo sorriso de quando ela era criança! A pele linda… tão linda, e foi nela que tudo começou… quem podia imaginar que aquela pele alojaria, aquele, que foi responsável por sua partida!
Essa mulher era impactante, ela tomava espaço… ela acontecia!
Ela era uma força da natureza e eu via essa força no olhar dela, o que me fazia acreditar que ela venceria e não a doença…
Não há como reduzí-la a um pequeno momento de pesar ao longo do dia…
Faz um mês que ela se foi, e eu respiro Cris, durmo Cris, acordo Cris, choro Cris, rio Cris, sinto Cris…
E é assim que é…
“É como é!”,  como ela me disse um dia antes de partir.
Por isso eu digo… não adianta me dizerem, “eu sei como é… também perdi minha mãe, meu pai, minha irmã… e passa, você se adapta, tenta distrair, ela está bem, não quer ver você chorando…”
Não ninguém sabe, pois cada um é um, cada dor é uma… Eu não sei o que é perder um filho, e mesmo que eu tivesse perdido, eu não sei o que é perder aquele filho que outra pessoa perdeu…
Não tem como saber… não sabemos o que cada pessoa representa na vida de alguém… não tem papéis, não são arquétipos, não tem fórmula, não tem regra, não tem comparação…
Claro que aprender a lidar, é essencial, senão a vida fica estagnada, se esvai, e não é assim que é pra ser, pois todos nós iremos ver partir e um dia partir… Temos que aceitar e nos reinventar após uma grande perda.
Se ainda não foi minha vez, se não parti com minha turma, é porque ainda tenho que realizar, expressar, aprender, trocar, viver, amar…
Eu vou continuar fazendo tudo isso… Claro que eu vou… mas não agora…

Agora quero falar sobre ela, quero sentir você, Cris…
Agora eu estou em suspensão, tentando entender como vou te deixar ir… como vou conseguir soltar a sua mão, essa sua mão que eu tanto beijei nessa vida…
Te amo, te amo, te amo… pra mim você vive!
Minha irmã, minha Cris…

Cris e Lu1

Cris pequena

Lú Rodrigues
Post Author
Lú Rodrigues
Autora do Encontro Essencial. Espaço de Consciência em Alimentação, estilo de vida, bem-estar. Integrative Health Coach. Certified Nutrition Coach by David Wolfe Nutrition Certified in INN - Integrative Nutrition Health Coach Certified in Health and Wellness Coaching by Wellcoaches and Carevolution Consult in plant-based food. Consultoria em Alimentação Consciente

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Luciane Rodrigues - Alimentação Consciente - Espaço de Consciência em Alimentação, Estilo de Vida, health and life coaching, consultoria em alimentação plant based.

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